Filme Machuca
Vou
registrar hoje com um certo atraso algumas percepções sobre textos e filmes
explorados nas disciplinas que tenho vivenciado no curso de pedagogia da UFRGS.
Um
dos primeiros filmes que assisti foi MACHUCA, um filme produzido pelo diretor Andrés
Wood, co-produção chilena.
Antes
de começar a descrever a as minhas
percepções sobre o filme gostaria apenas de contextualizá-los na época em
que decorre a trama, a qual acredito que sem fazer a mesma alguns fatos que citarei
a diante vão ficar soltos, assim como percebi que ficaram no filme. O filme
MACHUCA transcorre na época de 1973, quando o Chile era um pais governa pelo
socialista Salvador Allene que representava a unidade popular e que pretendia
construir uma sociedade socialista comprometida com o processo de
nacionalização da economia, com a reforma agrária e com a elevação de vida de
todos os trabalhadores, ou seja, pretendia desconstruir a sociedade ate então vigente que era
fortemente marcada por um predomínio econômico e imperialista. No entanto com o
passar dos anos as pressões do imperialismo americano e das elite chilenas
começaram a demonstrar seus descontentamentos através de protestos , nas quais
podemos destacar as paralisações dos proprietários de transportadoras e de caminhões,
o que ocasionou uma grave crise no abastecimento de mercados, vendas entre
outros, como forma de boicotar o governo popular. No ano de 1973 começaram a
surgir divisões e desentendimentos dentro do governo popular, já que o mesmo
era formado por diferentes grupos e partidos o que levou a um golpe de estado
que ocorreu em setembro do ano corrente, onde Valparaíso com um levante da
marinha tomou o poder que ficou caracterizado como o massacre dos humildes,
onde nos bairros operários e fabricas
ocupadas ocorreram cerca de 10 mil mortes e milhares de prisões.
O
filme Machuca nos coloca dentro de todo esse contexto do governo de Salvador
Allene logo no inicio o filme nos mostra uma escola para meninos extremamente
tradicional e elitista, cujo o diretor era uma padre com conceitos de uma
sociedade igualitária e que por conta disso deu algumas bolsas de ensino a
jovens de uma favela de Santiago com o objetivo de ensinar aquele jovens a
conviver e respeitar uns aos outros independente de sua classe, onde entre eles
se encontrava Machuca que era o sobrenome Pedro, um menino que por conta de suas características
sociais enfrenta inúmeros empecilhos de relacionamento, porém apesar de toda
adversidade Pedro consegue se aproximar de Gonzalo Infante, alienado
politicamente e membro de uma família abastada, que em sua trama se mostra
desestruturada emocionalmente, Infante se identifica com Machuca.
A
partir da amizade entre estes dois meninos o filme vai nos retratando tudo que
vinha ocorrendo no Chile daquela época, onde a luta entre socialista e
capitalista que marcam fortemente a época de 1973, eram para a família de
Machuca e sua amiga uma fonte de renda.
Ao
se descobrirem Machuca e Infante ao apresentarem suas casa um ao outro, ambos
descobrem um mundo até o momento desconhecido. Machuca percebe na casa de Infante
os prazeres de uma vida burguesa, da elite e Gonzalo, por sua vez, com sua
bicicleta descobre a periferia de Santiago e juntamente com ela a vida difícil
encarada pelos operário que não possuíam as menores condições de vida e toda
esta vivencia fica explicita no dia em que Gonzalo pede para ir ao banheiro da
casa de Machuca, onde o mesmo se sentiu constrangido, desconfortável e envergonhado
pela falta de um banheiro dentro dos padrões que ele estava acostumado. E em
meio a este contexto de descobertas e passeatas é que os dois meninos encontram seu primeiro amor, junto a uma
menina que vendia junto com eles bandeirinhas para auxiliar nas despesas de sua
família.
No
decorrer do filme fica explicito a posição do diretor como um agente sonhador e
que luta por uma sociedade diferente da que esta sendo enfrentada pelos
protagonistas do filme, porem apesar de seu amor e de suas convicções de que
estava certo incluir aqueles jovens, alguns pais decidiram fazer uma reunião
para expor seu sentimento de repúdio ao ver seus filhos misturas a marginais
(pessoas que estão a margem da sociedade dita perfeita) e com o passar do tempo
o exercito pleno golpe militar toma a frente da escola expulsando aqueles que
eram indesejáveis da escola e o mesmo ocorria com a sociedade, onde Gonzalo
pode vivenciar a frieza com que os militares tratavam seus amigos e suas famílias
por se tratarem de pessoas inúteis e perigosas aos olhos dos militares, já que
estes exigiam os seus direitos.
Se
analisarmos o filme mais a fundo vamos perceber que a escola do filme vinha
atendo as questões sociais e tentando mudar sua posição elitista, onde a melhor
educação deve ser dada ao burguês e entrando em um debate contemporâneo podemos
verificar que pouco ou quase nada vem mudando ao longo da vida institucional,
já que a escola ainda hoje, ensina em todo o Brasil de maneira não neutra, onde
a cultura de uma classe dominante continua sendo o foco, mesmo após tantos anos
de lutas sociais onde é possível
perceber que a sociedade mudou drasticamente seus dogmas e valores e a escola continua
a ensinar em seus mesmos moldes, com seus mesmos valores.