domingo, 17 de maio de 2015

Filme Machuca



            Vou registrar hoje com um certo atraso algumas percepções sobre textos e filmes explorados nas disciplinas que tenho vivenciado no curso de pedagogia da UFRGS.

            Um dos primeiros filmes que assisti foi MACHUCA, um filme produzido pelo diretor Andrés Wood, co-produção chilena.

            Antes de começar  a descrever a as minhas percepções sobre o filme gostaria apenas de contextualizá-los na época em que decorre a trama, a qual acredito que sem fazer a mesma alguns fatos que citarei a diante vão ficar soltos, assim como percebi que ficaram no filme. O filme MACHUCA transcorre na época de 1973, quando o Chile era um pais governa pelo socialista Salvador Allene que representava a unidade popular e que pretendia construir uma sociedade socialista comprometida com o processo de nacionalização da economia, com a reforma agrária e com a elevação de vida de todos os trabalhadores, ou seja, pretendia desconstruir  a sociedade ate então vigente que era fortemente marcada por um predomínio econômico e imperialista. No entanto com o passar dos anos as pressões do imperialismo americano e das elite chilenas começaram a demonstrar seus descontentamentos através de protestos , nas quais podemos destacar as paralisações dos proprietários de transportadoras e de caminhões, o que ocasionou uma grave crise no abastecimento de mercados, vendas entre outros, como forma de boicotar o governo popular. No ano de 1973 começaram a surgir divisões e desentendimentos dentro do governo popular, já que o mesmo era formado por diferentes grupos e partidos o que levou a um golpe de estado que ocorreu em setembro do ano corrente, onde Valparaíso com um levante da marinha tomou o poder que ficou caracterizado como o massacre dos humildes, onde  nos bairros operários e fabricas ocupadas ocorreram cerca de 10 mil mortes e milhares de prisões.

            O filme Machuca nos coloca dentro de todo esse contexto do governo de Salvador Allene logo no inicio o filme nos mostra uma escola para meninos extremamente tradicional e elitista, cujo o diretor era uma padre com conceitos de uma sociedade igualitária e que por conta disso deu algumas bolsas de ensino a jovens de uma favela de Santiago com o objetivo de ensinar aquele jovens a conviver e respeitar uns aos outros independente de sua classe, onde entre eles se encontrava Machuca que era o sobrenome Pedro,  um menino que por conta de suas características sociais enfrenta inúmeros empecilhos de relacionamento, porém apesar de toda adversidade Pedro consegue se aproximar de Gonzalo Infante, alienado politicamente e membro de uma família abastada, que em sua trama se mostra desestruturada emocionalmente, Infante se identifica com Machuca.

            A partir da amizade entre estes dois meninos o filme vai nos retratando tudo que vinha ocorrendo no Chile daquela época, onde a luta entre socialista e capitalista que marcam fortemente a época de 1973, eram para a família de Machuca e sua amiga uma fonte de renda.

            Ao se descobrirem Machuca e Infante ao apresentarem suas casa um ao outro, ambos descobrem um mundo até o momento desconhecido. Machuca percebe na casa de Infante os prazeres de uma vida burguesa, da elite e Gonzalo, por sua vez, com sua bicicleta descobre a periferia de Santiago e juntamente com ela a vida difícil encarada pelos operário que não possuíam as menores condições de vida e toda esta vivencia fica explicita no dia em que Gonzalo pede para ir ao banheiro da casa de Machuca, onde o mesmo se sentiu constrangido, desconfortável e envergonhado pela falta de um banheiro dentro dos padrões que ele estava acostumado. E em meio a este contexto de  descobertas e passeatas é que os dois meninos  encontram seu primeiro amor, junto a uma menina que vendia junto com eles bandeirinhas para auxiliar nas despesas de sua família.

            No decorrer do filme fica explicito a posição do diretor como um agente sonhador e que luta por uma sociedade diferente da que esta sendo enfrentada pelos protagonistas do filme, porem apesar de seu amor e de suas convicções de que estava certo incluir aqueles jovens, alguns pais decidiram fazer uma reunião para expor seu sentimento de repúdio ao ver seus filhos misturas a marginais (pessoas que estão a margem da sociedade dita perfeita) e com o passar do tempo o exercito pleno golpe militar toma a frente da escola expulsando aqueles que eram indesejáveis da escola e o mesmo ocorria com a sociedade, onde Gonzalo pode vivenciar a frieza com que os militares tratavam seus amigos e suas famílias por se tratarem de pessoas inúteis e perigosas aos olhos dos militares, já que estes exigiam os seus direitos.

            Se analisarmos o filme mais a fundo vamos perceber que a escola do filme vinha atendo as questões sociais e tentando mudar sua posição elitista, onde a melhor educação deve ser dada ao burguês e entrando em um debate contemporâneo podemos verificar que pouco ou quase nada vem mudando ao longo da vida institucional, já que a escola ainda hoje, ensina em todo o Brasil de maneira não neutra, onde a cultura de uma classe dominante continua sendo o foco, mesmo após tantos anos de lutas sociais onde é  possível perceber que a sociedade mudou drasticamente seus dogmas e valores e a escola continua a ensinar em seus mesmos moldes, com seus mesmos valores.

2 comentários:

  1. Especifica mais essa maneira não neutra da escola atual e qual o papel do professor nesse contexto.

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  2. Também vejo essa mudança constante da sociedade, e a educação ainda estagnada. O lado bom é que muitos educadores estão tentando mudar esse cenário.

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