Ler sobre a EJA me fez pensar em
como vivemos em uma sociedade marcada pelo preconceito, onde certos biótipos foram
historicamente ignorados/marginalizados pela elite da sociedade e como seus descentes
encontram-se ainda colhendo as consequenciais de todos estes fatos históricos.
Refletindo
sobre os textos e um livro que li recentemente de Hannah Arendt, percebi que
tal temática de marginalização da sociedade vem sendo abordada a décadas, porém
o funcionamento da sociedade em nada se modificou, ou seja, muito se pensou, se
falou mas pouco se fez.
O
livro “A banalidade do mal” de Hannah é feito pensando no governo de Hitler,
porém fiquei interpretando sua teoria e vi que em muitos aspectos ela se
encaixa perfeitamente na situação do Brasil, porém neste segundo com outra
frente de violência (se é que existe categorias de violências)
Por
exemplo, em seu livro Hannah Arendt descreve as pessoas envolvidas no nazismos
tanto como vítimas quanto como culpadas por deixar o sistema corrompe-las,
pegando a série de exemplos que ela deu percebi que os assaltantes que vivem no
Brasil eles podem também se encaixar neste perfil de vítima e agressor ao mesmo
tempo, porém aqui eles não foram iludidos por um sistema, mas ignorado pelo
mesmo.
Segundo
ponto que achei interessante na obra é que ela fala que todos eram peças de uma
grande engrenagem, ou seja, se matar um nazista outro viria e assumiria aquele
posto transformando o antigo integrante em um mero número, o mesmo podemos
perceber com os assaltantes e os assaltados, por mais que a polícia venha a
prender ou matar um assaltante a sociedade está sempre trabalhando na produção
de mais alguém que estará disposto a assumir aquele lugar, criando assim um
ciclo vicioso que só poderá ser quebrado com políticas públicas em especial
escolas que estejam preparadas e empenhadas em trazer este sujeito
marginalizado para uma sociedade onde as portas de oportunidades estarão
abertas.
Terceiro
princípio que Hannah fala em seu livro é a questão do senso comum, onde ela
coloca que para o nazismo existir não ouve apenas um culpado, apesar de Hitler
ter cooperado em grande parte para que tal fato ocorresse, houveram sim uma
população inteira que se deixou dominar e acatou o sistema, deixando de ver os
judeus como seus irmãos, como seres humanos chegando a perseguir e dizimar toda
uma população por conta de princípios que talvez nem fossem deles ou pensado
por eles.
O
que pensei é que na verdade a culpa do Brasil estar do modo que está é de toda
a sociedade sem exceções, que vê governantes negando o básico para milhões de
pessoas, que vê tudo que ocorre na favela, mas que se mostra incapaz de se
mobilizar contra tal ato, solicitando um sistema público de qualidade e
atuante.
E
por fim o último princípio é a consciência que muitos alemães não possuíam sobre
seu sistema e sobre o que realmente estava acontecendo, tornando-se
completamente alienados na mão de um poder tirano.
Bom
apesar de não ser bem o governo que promove este golpe de alienação entre os
brasileiros, isso infelizmente ocorre com o nosso povo que se mostra incapaz de
lutar contra a maré de informações e mostrar que não precisa da mídia para
traçar os perfis perfeitos ou o que é ou não consumível.
Enfim
diante do livro e dos textos da EJA percebi que essa modalidade de ensino veio
para tentar reparar um contexto histórico de marginalização, mas ai confesso
ficar me indagando como esta fará para reparar o que vem ocorrendo agora na
sociedade, pois não é só uma carga histórica é muito mais que isso, esse nível de
educação tem reparar todo um sistema podre que insiste em não garantir direitos
básicos dos cidadãos que se diferem daquele perfil dito ideal, como a EJA vai
fazer seu educando pensar sobre um sistema que não funciona e pior sem a ajuda
do poder público.
Creio
que a única solução para tudo isso é o tão famoso dialogo proposto pelo nosso saudosíssimo
Paulo Freire, dialogo esse capaz de fazer com que seu sujeito comece
indagando-se sobre a sua realidade primeiramente e por fim sobre a realidade
que está inserido, pois melhor que a codificação da leitura, só mesmo a sua
aplicação no mundo.