Se eu tivesse
um encontro comigo antes de iniciar este semestre, certamente deixaria claro que
eu deveria me preparar para mais um processo de desconstrução, pois sem dúvida
o objetivo deste semestre foi criar uma rede de disciplinas capaz de fazer com
que as educandas reflitam sobre si, sobre seus “Pré” conceitos e sobre a sua
prática.
Hoje no meio
de mais um semestre me enxergo como uma bonequinha feita de legos que foi desconstruída
(através de textos e vídeos) até sobrar apenas os sapatinhos e vem sendo
novamente construída, porém agora com outra roupa, outra laço na cabeça, mas
acima de tudo outros olhos e outra mentalidade.
As disciplinas
de Inclusão e de Étnicos-raciais proporcionaram uma intensa revisão de
conceitos, que me fizeram perceber que como profissional da educação devo
frequentemente retomar minhas atitudes e me questionar como e porque cheguei a
certa conclusão.
Desde meu
primeiro emprego como professora sempre tive alunos autistas em minha turma e
mais uma vez ao voltar para sala de aula recebo de presente (o melhor desse
ano) mais um aluno com tal característica, que não sei porque me identifico
muito, mas além deste recebi um aluno com Síndrome de Down e neste momento me
senti perdida, porém ao escutar conselhos de alguns colegas recebi as seguintes frases:
- Não se
preocupa crianças com Down são felizes e não dão trabalho.
-Nossa pode
ter certeza que ele vai ser muito mais sociável.
Não encontrei
nada nem perto disso e agora após a leitura da disciplina de inclusão percebi
que tais falas, são na verdade parte dos famosos entraves de “ser ou então”
trazidos pela autora Lígia Assumpção Amaral, onde a mesma nós diz que temos o vício
de achar que por conta de conhecermos uma pessoa com tal deficiência que possui
uma determinada característica se cria a ilusão (seja ela construída por mitos ou
pela mídia) que todos os outros com tal deficiência também vão ter a mesma característica.
No meu caso aprendi com a vivência que isso não se aplica de fato, temos que
ter em vista que cada sujeito é único e que possuem formas diferentes de pensar
independente de ter ou não alguma deficiência, no meu caso somente depois de
três a quatro meses e que eu e meu aluno conseguimos estabelecer uma relação, desconstruindo
o que muitos pensavam sobre os Downs na escola, onde por vezes, tenho que
escutar:
-Nunca vi um
Down tão bravo, tão mal humorado.
Mas a verdade
é que só eu sei o quão especial este menino é, onde a cada dia ele vem demonstrando
que além de uma personalidade forte e do fato de não ser muito social ele
possui um imenso amor e carinho, por vezes, entre uma aula e outra me pego
rindo sozinha com as artimanhas que o mesmo faz para não realizar certos
trabalho, ou com as pequenas conquistas que venho acompanhando, onde percebo
que meu pequeno está crescendo como todos os outros.
Referência:
AMARAL, Lígia Assumpção. Sobre crocodilos e avestruzes: falando das diferenças físicas, preconceitos e superação. In: AQUINO, Julio Groppa (org.). Diferenças e preconceitos na escola: alternativas teóricas e práticas. São Paulo: Summus, 1998, p. 11-30.
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