quarta-feira, 27 de setembro de 2017

O acaso me deu um presente






Hoje, navegando pelo meu facebook eis que me deparo com um vídeo chamado “A cloudy lesson” (A lição nuvem), que é uma curta-metragem de animação, dirigido por Yezi Xue, de 2010, produzida pelo Departamento de Animação Computadorizada no Ringling College of Art + Design.
            Vi e revi este vídeo pelo menos quatro vezes tentando achar exatamente o ponto que me chamou tanto a atenção, por fim cheguei à conclusão que não existe apenas um fator à ser explorado, porém vários já que a cada vez que assistia o vídeo um novo pensamento me vinha a mente:
            Na primeira vez que vi o vídeo, fiquei analisando a postura do senhor (onde alguns afirmam ser avô e outros relatam que é tio, enfim não importa).
 Imaginei neste senhor a imagem de um professor, onde pode-se perceber que ele assumiu a postura de um construtivista, pois mesmo tendo seu planejamento (ensinar a soprar nuvens) quebrado por um incidente este se permitiu aprender com seu aluno e com a situação que vivenciava.
No texto Epistemologia Genética da autora Tania Marques, ela nos relata que cada teoria tem uma forma de encarar o erro, no caso deste vídeo o senhor conseguiu encarar o erro e a forma estabanada do menino da melhor forma possível, utilizando-a para produzir um novo conhecimento para ele (que nem imaginava que podia dar outras formas para nuvens) e vivencias para seu aluno (que até mesmo o maior dos erros pode servir de aprendizagem).
            Na segunda vez que assisti ao vídeo fiquei imaginando qual seria o desfecho do mesmo, se o professor (o senhor) tivesse apresentado uma postura tradicional de ensinar, onde provavelmente o mesmo teria   repreendido o menino por sua forma estabanada de agir e daria sua aula por encerrada naquele momento, talvez arrancando assim deste jovem aluno e dele mesmo a oportunidade de aprender com as novas situações que a vida nos apresenta, limitando tanto o seu fazer pedagógico quanto a criatividade e formação de novas estruturas deste aluno.
            E na terceira vez que assisti ao vídeo fiquei pensando como seria esse menino se já tivesse sido modelado de acordo com o que seu mestre esperava (um grande soprador de nuvem), será que passaria a vida sempre fazendo a mesma coisa da mesma forma.
            Não satisfeita ainda assisti o mesmo uma quarta vez, onde me veio à mente a real diferença entre transmitir uma informação e produzir um conhecimento, percebe-se no início do vídeo que o menino tem dificuldade em dominar o seu sopro, porém após ter quebrado o soprador, ter entortado o aro afim de formar um coração, está criança interagiu com a informação e aproximou-a de sua realidade produzindo assim um significado para ela, apropriando-se do conhecimento e tomando consciência de sua capacidade.
            Nas quatro vezes que observei o vídeo fiquei me imaginado como professora e como, por vezes, tenho que modificar todo meu plano de aula (assim como o senhor), para atender as necessidades que meus alunos demandam. Pensei em como é a minha postura diante do erro do meu aluno e o que tenho feito para evitar rótulos indesejados, pois toda vez que fizemos isso tiramos de uma criança parte de sua personalidade e limitamos as suas expectativas sobre ela mesmo, trazendo-lhes grandes bloqueios que no meu caso me prendem ao medo de falhar, ao medo de escrever, ao medo de ser julgada, com toda certeza eu não quero isso para os meus alunos.

            Hoje sei que não existe certo ou errado no modo de aprender, existe sim estratégia que cada indivíduo traça para alcançar tal. Quando nós professores se abrirmos para a ideia de que não precisamos ensinar tudo as crianças (como tabulas rasas), vamos poder nos considerar mestres aprendizes, até por que se pararmos para pensarmos por um instante mesmo que o nosso aluno tenha poucos anos de vida, eles já passaram por diversas fases ou estágios de seu desenvolvimento, aos quais serviram para formar uma serie de estruturas que vão servir de suporte para a sua futura aprendizagem, tendo em vista tal, podemos dizer que o principal papel do professor não é criar uma cópia de si mesmo, ou formar figuras para a industrias, mas sim para criar possibilidades à esse pequeno indivíduo para que se desenvolva, se transforme e se torne responsável pelo seu próprio conhecimento.


Referências

https://www.youtube.com/watch?v=psZmAsH6I3Q

MARQUES, Tania Beatriz Iwaszko. Epistemologia Genética. In: SARMENTO, Dirléia Fanfa; RAPOPORT, Andrea e FOSSATTI, Paulo (orgs). Psicologia e educação: perspectivas teóricas e implicações educacionais. Canoas: Salles, 2008. p.17-26

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